Friday, January 29, 2010

Smile



"Smile
tho' your heart is aching,
Smile even though it's breaking
When there are clouds in the sky
You'll get by
If you smile through your fear and sorrow,
Smile and maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through
For you.

Light up your face with gladness,
Hide ev'ry trace of sadness,
Altho' a tear may be ever so near,
That's the time you must keep on trying,
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile,
If you just smile..."


Charles Chaplin (1889-1977)

Tuesday, January 12, 2010

Se fores de manhã, não me acordes.


“Quero um amor tão doentio que o bom-senso o proíba.”
Autora anónima, terrivelmente talentosa


Se fores de manhã, não me acordes.

Nem sequer me toques. Não quero que o dia comece com a sensação dos teus dedos frios a percorrerem-me a face, anunciando-me que te vais. Nem quero que a visão de ti saindo seja o primeiro momento da manhã. Dispenso ficar rabugenta assim que começa o dia. Não, não me acordes.
Quero acordar quando já não estiveres, quando os lençóis já não retiverem nenhum do teu calor, pista nenhuma de que ali dormiste. Quero demorar-me no banho o tempo que me apetecer, não ter que me apressar para que também tu não chegues tarde. Quero levar o meu tempo a maquilhar-me, a escolher a roupa. Quero fazer café só para um e quero fazer as palavras cruzadas. Tu e essa tua mania de me roubares as palavras cruzadas! Também as fazes a caneta, e depois não as posso fazer eu!

Porque tens de ser tão parecido comigo? Vieste assim, sem eu dar conta, e agora fundiste-te em mim, não sei onde começo eu e acabas tu, não sei quando vivo para mim ou para ti, ou para os dois, abomino a palavra “nós”.
Já não te suporto. Detesto que o teu cheiro fique a pairar na minha pele, no meu cabelo, lembrança constante de que te pertenço. Detesto que me compreendas, como se tudo o que eu digo fizesse todo o sentido e restaurasse a ordem no caos. Detesto que sintas a minha falta e eu a tua. Detesto ver os teus óculos na mesa-de-cabeceira, como se pertencessem ali. Detesto que o gato se enrole nas tuas camisolas. Grandessíssimo traidor. Detesto que agora estejam sempre duas chávenas na mesa de pequeno-almoço, como se fosse lógico a unidade ser a junção de duas metades… Não é, garanto-te que não é!

Quero-te tanto que já não te quero, e quero tanto que fiques longe que não suporto a tua ausência. Não quero que me acordes de manhã, mas quero que voltes à noite. Quero que acabes com a ansiedade que se apodera de mim quando penso que hoje podes não vir. Quero que o gato ronrone ao reconhecer-te quando entrares por essa porta. Quero que largues tudo ao entrar e me abraces, como se não me visses há mil vidas, como se não houvesse amanhã, como se a manhã nunca fosse chegar. Quero sentir os meus dedos no teu cabelo, os teus lábios na minha pele, as minhas mãos no teu rosto, as tuas puxando-me de encontro a ti, e o mundo sermos tu e eu e depois acabar no precipício… Quero adormecer quente nos teus braços, com a chuva a tamborilar na vidraça, os teus dedos a brincar com os meus, o teu respirar no meu ouvido, no meu pescoço.


Quero que fiques.
Quero que a noite dure eternamente, esta escuridão bruxuleante que me ilumina a alma, este tempo parado que me alimenta a fome de ti, este estremecer que me abala até às profundezas de mim…
Nunca deixes de vir, porque eu vou estar à tua espera. O gato vai estar à tua espera.


…mas se fores, de manhã, não me acordes.