Friday, May 11, 2007

the sense of touch...


“It’s the sense of touch. (…) Nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much that we crash into each other just so we can feel something.”

Quanta verdade há nisto…

Quantas vezes nos encontramos rodeados de gente, só para descobrir que, no fim de contas, estamos sós? Quantas vezes os nossos gritos caem no vazio, de tanto que os que nos rodeiam são surdos ao nosso clamor? Quantas vezes a solidão e o pavor se apoderam de nós, quais tentáculos negros que surgem da escuridão – daquela escuridão que nos persegue sem cessar, à qual lançamos olhares por cima do ombro, na esperança de que se tenha desvanecido… - e ninguém se dá conta?

Ao andar pela rua, apercebemo-nos: as pessoas não se cumprimentam, não sorriem, não se tocam – na verdade, desviam-se umas das outras ainda a metros de distância. Quanto daríamos para que alguém nos sentisse, alguém nos visse, se desse conta? É por isso que dá tanta vontade de ir contra alguém no meio da rua… apenas para ter a certeza de que existimos de facto. É esse o valor do toque

Quantas vezes nos sentimos qual bote frágil ao largo da costa, cada vez mais longe da praia e do farol, cuja luz se perde no horizonte, extinguindo consigo a esperança que restava? Quantas vezes esse bote enfrenta as borrascas e as rochas, sem leme ou remos, e somos nós os únicos a bordo dele, quando parecia tão cheio noutras ocasiões?...

E às vezes dá vontade – tanta vontade - de ceder… Que o bote se estilhace enfim contra os rochedos, que enfim a água escura nos engula, trazendo uma quietude libertadora… Lá no cimo, os trovões rugem e os relâmpagos cintilam, mas não perturbam a paz gélida do mar…
E flutuo… Descendo levemente em direcção ao abismo. O meu olhar deixa o tumulto à superfície para encarar o negrume debaixo de mim… E já não importa que me engula, que me abarque e faça desaparecer, pois trará a calma… Em breve, nada importará, nada trará dor…

Mas vem um estertor, um espasmo…e o corpo nega-se a ceder. As pernas movem-se vigorosamente, os braços gesticulam, os pulmões pedem ar… Só mais um pouco, só mais um esforço… A água enche-me a boca e no minuto seguinte a minha cabeça irrompe por entre as ondas, o rosto fustigado pela espuma… e acordo sobressaltada, debruçada sobre a mesa onde adormeci.

O gira-discos arranha rouca e incessantemente a canção celta. Lá fora a tempestade ruge, e o vento uiva e fustiga as janelas e os acordes da música combinam com aquele cenário. A casa, única na praia, suporta as investidas sem queixume, habituada à areia e ao sal. O bote permanece, apesar da violência das ondas, intacto, amarrado ao cais de madeira. Da janela vejo o farol; a luz é forte e constante e, de súbito, enche-me de conforto. Sorrio, apago a luz da candeia, e vou dormir.

4 comments:

Anonymous said...

quanta verdade nos teus pensamentos.. adorei.. tu conheces-me bem demais =) sim, é verdade sou um bocadinho eu também nas palavras que escreveste.. sem dúvida alguma!

enquanto lia, vi-me a personagem daquilo que escreveste, princesinha.. vi-me rodeada de tantos outros seres e senti-me perdida nessa mesma confusão.. gesticulei, tentando procurar alguma indicação que me levasse a porto seguro, mas percebi que os gritos que eu achava ecoarem não se transformavam em som.. permaneciam presos nas minhas cordas vocais.. talvez o ar não fosse o suficiente para faze-las vibrar... e quando olhava, via incompreensão à minha volta... há momentos assim, em que nos sentimos desamparados... mas talvez o problema esteja na nossa propria forma de encarar esses mesmos momentos.. talvez até esteja, algures a mão estendida que nós tanto clamamos.. e, ambas sabemos que depende de nós não nos sentirmos perdidas...
o toque.. fundamental, sem dúvida.. é ele que aproxima pessoas.. eu não conseguiria ter uma relação, não seria verdadeiramente eu, se não pudesse abraçar os meus amigos, dar a mão a alguém especial, tentar contornar com o meu dedo os limites do rosto de alguém importante...
eu gosto de ti, princesinha.. muito mesmo.. vou dar-te a mão, levar-te a passear por entre as multidões com o sentimento de que não estás só, que alguém está do teu lado..
****

Anonymous said...

admito k m sinto envergonhada de só agora ter vindo conhecer o teu cantinho...tu que estavas lá quando alguem se lembrou de m chamar pulga electrica...tu k estavas la quando abreviaram isso para pulguita...e sim ainda sou conhecida por pulga...e quase chorei quando me ofereceram a primeira fatia de bolo...boas recordações.
amei o teu cantinho vou sem duvida voltar e prometo que da proxima vez faço um comentário decente =)
bjinhu*

Anonymous said...

E um livro nao??
N sei s ja alg dia pensast nisso.. ms estive a ler.. e tens o dom da escrita Sarita! É incrível cm consegues fazer-nos viajar nos teus pensamentos, viver os teus sonhos, os teus medos...
Ha momentos assim sem duvida, tds os tems.. Sentimo-nos incompreendidos, querems mais e parece-nos que ng e capaz d nos dar... Todos parecem distantes, preocupados mais consigo... Mas é o que a Sara diz, ha sp um porto seguro onde podems ancorar o nosso bote, pode e estar mais escondido!
Um beijinho*grande e MT bom estudo! ;)

Nani said...

lindona... espero que o estudo seja muito e embora aposte que estejas cansada também sei a lutadora que és... quem corre por gosto não cansa, né? espero ver-te felizona quando tivers d férias!!! beijoes do tamanho do mundo à Srª Engenheira Enfermeira Polícia Arquitecta Bombeira Gestora Economista e tudo mais (menos Drª - lol)...
Sabes k a gente "daki" torce por ti certo?
!!!CHUAC!!!