Monday, December 07, 2009


"And I know you're shining down on me from Heaven,
Like so many friends we've lost along the way,
And I know eventually we'll be together...

Sorry, I never told you, all I wanted to say."

Tuesday, December 01, 2009



“Minha alma procura-me mas eu ando a monte
Oxalá que ela nunca me encontre.”
Fernando Pessoa


Estou cansada.
Quero deixar tombar a cabeça e sentir o corpo inerte seguir-se-lhe, caindo no leito. Quero tirar partido de estar imóvel, tomando consciência de todo o centímetro de mim, dos ângulos estranhos que os membros formaram no meu desmoronar, da sensação do lençol na minha pele, das pestanas a roçar na almofada, do frio nas pontas dos dedos. Quero seguir com o olhar as partículas dançantes no feixe de luz que se intromete pela fresta da janela aberta, pequenos mundos e universos que rodopiam numa coreografia silenciosa e deslumbrante. Quero sentir o cheiro do incenso, das maçãs, do ar gélido da manhã.


Quero sentir-me e ter certeza que sou completa, que sou eu e mais ninguém. Que não tenho que ser o que esperam que eu seja, ou fazer o que é expectável que faça. Quero que me deixem arriscar, que não me tentem persuadir a jogar pelo seguro, a tomar esta saída da estrada em que sigo porque não se sabe quando aparecerá outra, e é melhor ter esta saída que não ter nenhuma. Quero seguir em frente enquanto me apetecer, escutar o coração e tomar o caminho que ele me disser para tomar. Quero ter a certeza que quando decidir tomá-lo será em prol de mim. Não quero ser metade; quero ser inteira. E percebo agora que para isso terei de fazer-me surda, terei que ser louca na minha medida, abafar as vozes que me perseguem e pressionam a ser racional e escutar o coração mais vezes.


Isso. É isso. Assim reúno forças que me permitem erguer, afastar o cabelo da cara, abeirar-me da janela e dizer, ao contemplar um dia agreste de Dezembro: “hoje vou ser feliz”.

Saturday, September 05, 2009

Saudade


Hoje sonhei contigo.

Era um fim-de-tarde cinzento de Outono. Talvez não muito distante. Entrei em casa a tempo de me abrigar da trovoada que rebentara e do vento que fustigava tudo lá fora. A casa, deserta e silenciosa, estava mergulhada na penumbra. Tirei o casaco. Fui ao escritório e larguei as chaves de casa em cima da secretária. Dirigi-me às escadas.

Foi então que ouvi. Uma tosse leve, lá em baixo, na sala… Parecias mesmo tu. Mas eu sabia que não podias lá estar… E, no entanto, desci imediatamente as escadas, para ir ver. Ao chegar ao fundo delas, deparei-me com a sala, totalmente envolta na escuridão.

Chamei: “Avô?”. E acendi a luz.

E ali estavas, no sofá do costume. Olhaste para mim, sorriste aquele teu sorriso reconfortante e disseste: “Pediste tantas vezes que te viesse ver, filha… Estou aqui.”. Corri para ti, entre lágrimas e gargalhadas, e abracei-te. Quis que prometesses que não partirias; disseste-me que tinhas muitas saudades, mas que só podias ficar comigo até adormecer. Quando eu despertasse já terias ido embora. Conversámos por horas, até que adormeci com a cabeça nos teus joelhos, enquanto me afagavas o cabelo.

E hoje acordei em paz.*
"Nunca se esqueça, nem um segundo
Que eu tenho o amor maior do mundo
Como é grande o meu amor por você..."

Tuesday, June 30, 2009

Drink it in.


"Did you say it?
I love you, I don't ever want to live without you, you changed my life.
Did you say it?
Make a plan. Set a goal. Work toward it. But every now and then, look around.
Drink it in. 'Cause... this is it. It might all be gone tomorrow."



Há sempre amanhã. Há sempre depois. Há sempre “daqui a pouco” e “até logo”.
…Não, não há.

Somos tão céleres em reconhecer que a vida é curta, em citar Horácio, em ceder os 5 minutos de choque da praxe ao saber da morte de alguém. E tão mais céleres ainda em não retirar qualquer tipo de sabedoria prática disso. Claro, falamos de aproveitar mais o tempo que nos é dado, de viver como se não houvesse amanhã, mas assim que o nosso pensamento se ocupa com outro tema…são apenas palavras atiradas ao vento. Talvez a perspectiva de perder tudo, todos, algo ou alguém que significa tanto para nós apenas tenha capacidade de produzir um sobressalto limitado. Talvez seja apenas um fenómeno bioquímico, fisiológico. Mas não deixa de ser incrivelmente estúpido.

Olha à tua volta. E se tudo o que vês não passasse de hoje?
Os teus sonhos e ambições? Os teus pertences? As tuas memórias, a tua saúde? As pessoas que amas? Mãe, Pai, irmãos, avós, tios, primos, amigos de infância, amigos de todos os dias, amigos para sempre, namorada, namorado ou marido, mulher? Tenta imaginar, por um momento só, que a tua vida, ou algum aspecto dela, acaba por ser totalmente diferente do que imaginaste. Que certas pessoas não te acompanharão para o resto da vida. Que não vais ser saudável para sempre. Que os momentos que idealizaste são arruinados. Que perdes o que levaste uma vida a construir.
Essa sensação de aperto, de frio no estômago? Chama-se “ter-noção-do-quão-efémero-e-inconstante-tudo-realmente-é”.

Temos tanto a perder… e nunca perdemos uma vez só. Ultrapassar uma provação, um momento difícil, não nos concede a graça de nunca mais termos que sofrer na vida. Não sofremos cada um o seu quinhão, por assim dizer. Estamos condenados a que algumas coisas más nos aconteçam, nem que seja pela natureza finita da vida humana; por vezes, até, essas coisas podem suceder-se mais rapidamente do que conseguiríamos prever… o mundo não espera até que sares das tuas feridas. Já pensaste nisso?

Não são palavras amargas, são palavras de quem também já perdeu um pouco de si, mas tem a humilde ambição de conseguir sorver todos os bons momentos de um dia, de lhes dar valor, e de dar graças pelas pequenas coisas. De dizer às pessoas que lhe são importantes o quão profunda e verdadeiramente as ama, o quão lhe é doloroso imaginar que não as vai ver amanhã, o quão grata está por tê-las na sua vida.
Ainda não consigo fazer isso tudo. Mas gostava de lá chegar. E gostava que todos quantos me são próximos lá chegassem também.

Fecha os olhos. Dá-me a mão. …vamos fazer um esforço?