Friday, September 14, 2007

Se é verdade que uma imagem vale mais que mil palavras, também é verdade que ainda não tinha usado esse "lugar-comum" neste blog. Só que andei a remexer em velhas fotos e encontrei esta relíquia... e esta foto convence-me desse cliché: hoje acredito que é possível que uma imagem tão pequena e já um pouco desbotada consiga concentrar todo o amor, dedicação e adoração de uns pais por uma filha... e pelo qual eu posso apenas estar grata.

Amo-vos muito*

Monday, August 20, 2007


E veio o dia. E eu fugi.

Fugi para longe, correndo até não poder mais, deixando tudo para trás, até perder de vista, e mesmo assim parecia nunca ser longe o suficiente. E não foi... E não foi...

Quando parecia ter a alma em sossego, mergulhada no verde dos prados e na imensidão azul do céu, alguém ateou fogo ao meu coração… Parecia que o sentia mirrar; senti como se me tivessem atraiçoado, como se um poder mais alto, com laivos de perfídia, tivesse estado a jogar xadrez com o que sentia, permitindo que me sentisse a salvo, apenas para que o golpe seguinte doesse mais…

O que é que faço agora? Como é que se reaprende a viver quando tiramos pessoas que amamos da equação? Não consigo deixar de pensar que é errado que algum dia me volte a sentir feliz… Como é que eu faço isso, quando perdi tanto em tão pouco tempo?

Não tenho respostas, nem resistência. Queria poder acordar de um simples pesadelo, mas não posso. Queria tê-los de volta, mas é impossível. Queria que alguém me ensinasse o que fazer com esta dor e revolta, mas tenho que aprender sozinha.

Não consigo exprimir bem o que me vai na alma; nem sei se quero, de tão negra que a sinto. Talvez, daqui a muito tempo, a mágoa drene. Talvez eu venha a poder dizer que já não sinto dor porque “eles não quereriam isso”. Por agora quero chorar. Quero levar-lhes as rosas de que tanto gostavam; sei que as não podem cheirar, mas quero levá-las mesmo assim. Quero que chova, que o céu os chore e, de caminho, talvez a chuva lave a raiva e tudo mais.

Friday, May 11, 2007

the sense of touch...


“It’s the sense of touch. (…) Nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much that we crash into each other just so we can feel something.”

Quanta verdade há nisto…

Quantas vezes nos encontramos rodeados de gente, só para descobrir que, no fim de contas, estamos sós? Quantas vezes os nossos gritos caem no vazio, de tanto que os que nos rodeiam são surdos ao nosso clamor? Quantas vezes a solidão e o pavor se apoderam de nós, quais tentáculos negros que surgem da escuridão – daquela escuridão que nos persegue sem cessar, à qual lançamos olhares por cima do ombro, na esperança de que se tenha desvanecido… - e ninguém se dá conta?

Ao andar pela rua, apercebemo-nos: as pessoas não se cumprimentam, não sorriem, não se tocam – na verdade, desviam-se umas das outras ainda a metros de distância. Quanto daríamos para que alguém nos sentisse, alguém nos visse, se desse conta? É por isso que dá tanta vontade de ir contra alguém no meio da rua… apenas para ter a certeza de que existimos de facto. É esse o valor do toque

Quantas vezes nos sentimos qual bote frágil ao largo da costa, cada vez mais longe da praia e do farol, cuja luz se perde no horizonte, extinguindo consigo a esperança que restava? Quantas vezes esse bote enfrenta as borrascas e as rochas, sem leme ou remos, e somos nós os únicos a bordo dele, quando parecia tão cheio noutras ocasiões?...

E às vezes dá vontade – tanta vontade - de ceder… Que o bote se estilhace enfim contra os rochedos, que enfim a água escura nos engula, trazendo uma quietude libertadora… Lá no cimo, os trovões rugem e os relâmpagos cintilam, mas não perturbam a paz gélida do mar…
E flutuo… Descendo levemente em direcção ao abismo. O meu olhar deixa o tumulto à superfície para encarar o negrume debaixo de mim… E já não importa que me engula, que me abarque e faça desaparecer, pois trará a calma… Em breve, nada importará, nada trará dor…

Mas vem um estertor, um espasmo…e o corpo nega-se a ceder. As pernas movem-se vigorosamente, os braços gesticulam, os pulmões pedem ar… Só mais um pouco, só mais um esforço… A água enche-me a boca e no minuto seguinte a minha cabeça irrompe por entre as ondas, o rosto fustigado pela espuma… e acordo sobressaltada, debruçada sobre a mesa onde adormeci.

O gira-discos arranha rouca e incessantemente a canção celta. Lá fora a tempestade ruge, e o vento uiva e fustiga as janelas e os acordes da música combinam com aquele cenário. A casa, única na praia, suporta as investidas sem queixume, habituada à areia e ao sal. O bote permanece, apesar da violência das ondas, intacto, amarrado ao cais de madeira. Da janela vejo o farol; a luz é forte e constante e, de súbito, enche-me de conforto. Sorrio, apago a luz da candeia, e vou dormir.

Friday, April 20, 2007

"Se uma gaivota viesse..."


Sexta-feira e o sol que se põe em Lisboa.

Espreito da minha janela - a cidade, vista de um 3º andar, parece expirar de alívio, depois de um dia de que só resta o cansaço. Às vezes, nestes momentos, parece que o tempo pára. As ruas, vistas cá de cima, parecem mergulhadas numa inércia flutuante que não consigo descrever. As pessoas parecem andar mais direitas, como se a Sexta-feira lhes trouxesse o alívio das cargas que transportam todos os dias. …Não que o dia seguinte seja muito melhor – mas há qualquer coisa de mágico no cair da tarde de uma Sexta-Feira.

Seja porque traz a sensação (por vezes equívoca) de dever cumprido, em mais uma semana que chega ao fim, ou porque é rodeada do “feeling” fervilhante da antecipação do que se reservou para essa noite ou para os próximos dias. Talvez seja apenas a possibilidade de, por uma vez, na semana inteira, ou em várias semanas, quem sabe, chegar a casa e deixarmo-nos cair no sofá, sem que ninguém nos lembre que há algo urgente a requerer a nossa atenção. Talvez seja o reencontro – famílias, amigos, namorados, namoradas... – pessoas que a semana nos roubou, reclamando o nosso tempo para “coisas mais importantes”. Para outros talvez seja a solidão, o sossego que a semana roubou por ser demasiado agitada.

Seja o que for… Gosto de olhar as pessoas que ainda cruzam as ruas a esta hora… gosto de tentar ver para lá do que vejo, saber o que as move, o que gostam no cair da tarde e para quê ou para quem têm pressa de voltar, correndo tão apressados, e ao mesmo tempo com um vislumbre de um sorriso na face… A florista, na esquina, com o carrinho ambulante, prepara tudo para voltar para casa, onde a esperam os filhos e o marido. O senhor, engravatado, homem novo, dirige-se para o parque de estacionamento, pensando que tem que levar o cão à rua. A rapariga, da minha idade, com uma braçada de livros, que, ao chegar a casa vão ser atirados para um canto. Gosto de olhar para eles e tentar perceber afinal porque gosto eu do cair da tarde ou o que me move a mim. Fico assim, observando, até as luzes da cidade se começarem a acender. A esquina está deserta. Olho para o céu, lusco-fusco, e percebo que ainda não foi desta que descobri. Não faz mal. Para a próxima, talvez.

Há qualquer coisa de mágico no cair da tarde de uma Sexta-Feira. Enquanto o sol desaparece, fecho os olhos, inspiro o ar fresco que anuncia a noite que se aproxima; e quase - quase - consigo ver a fadista naquela esquina, esquecida pelo tempo, que se enrola no xaile negro e atira a cabeça para trás, rouquejando: “Se uma gaivota viesse... trazer-me o céu de Lisboa…”

Friday, April 13, 2007


Ter alguém que adivinha o que nos vai na mente, que nos entende sem que seja preciso explicar ou sequer verbalizar, que nos surpreende dia-a-dia, que com um abraço cura todas as maleitas do mundo, que sem dizer nada ou apenas por se sentar ali ao lado nos faz sentir menos sozinhas, que percebe a magnitude de uma lágrima ou de um silêncio, que sabe dizer a diferença entre cada uma das nossas expressões ou tons de voz ou sorrisos, que partilha as nossas preocupações e alegrias, as nossas angústias e desesperos, a nossa dor e o nosso choro, as nossas euforias e os nossos risos, todas as horas, todos os dias...tornando-se indissociável de quem nós somos.

Que preço tem isso?

...não faço ideia, mas eu devo ser muito, muito rica.