Sunday, October 15, 2006

The Dark Side


Não há muito tempo, num daqueles muito raros dias que tenho para não fazer nada, sentei-me (ou esparramei-me) no sofá a ver televisão. Enquanto fazia um curto “zapping”, houve um documentário a chamar-me a atenção. Focava a natureza psíquica do homem, através de uma experiência conduzida por vários cientistas. A várias pessoas era dada a tarefa de monitorizar exames orais de alguns alunos da faculdade. Ouviam todo o exame numa sala aparte, sem ver nada do que se passava na sala de exames. Se o aluno desse uma resposta correcta, o exame prosseguia; caso contrário, a pessoa deveria carregar num botão e era-lhe administrado um electrochoque. Se continuasse a dar respostas erradas, a potência desse choque aumentava. Claro que isto não era real, o que as pessoas ouviam eram as vozes de actores contratados. Mas o que chocou os cientistas foi que, mesmo face aos gritos de dor e agonia que ouviam, por muito incomodadas com a situação que se pudessem sentir…as pessoas não deixavam de carregar no botão.

Mais do que às vezes pensar em como a natureza humana me consegue surpreender positivamente, penso muitas vezes no seu “lado negro”. Fico, mais que espantada, fico horrorizada com o que o ser humano é capaz de fazer, e com o que é capaz de fazer a outro ser humano.

Ao longo da História da Humanidade são recorrentes os exemplos daquilo de que falo…

Durante o império romano, o Coliseu era palco de perfeitos massacres…tudo para diversão da multidão! E assim foi durante séculos!

Quando, em 1519, Cortez e os seus homens chegaram a Tenochtitlan, o povo azteca e o seu imperador Montezuma II acreditaram que fosse o deus Quetzacoatl, pela sua pele branca e pela sua vinda coincidir com o ano em que a profecia que dizia que Quetzacoatl deveria regressar. Trataram-no com honras e Montezuma beijou-lhe a mão. O que se passou a seguir foi uma autêntica carnificina. O imperador Montezuma foi assassinado, e muitos aztecas escravizados, tratados com extrema crueldade e até assassinados.

Há também o exemplo recorrente do Holocausto, ao qual ninguém é indiferente…. Ainda hoje há quem trema, ou chore, ou se sinta invadido por um enorme temor, ou pelo menos asco, ao ouvir os nomes de Auschwitz, Treblinka, Belzec, Chemno, Majdanek…ou de Dachau e Belsen… Tudo em nome de uma vontade irracional de criar uma raça pura, como se alguém tivesse o direito de decidir quem é digno ou não de viver. Tudo porque uns quantos loucos julgaram que exterminar pessoas era a “endlösung der judentrage” – a “solução final da questão judia”. …como se houvesse sequer uma “questão” e eles tivessem o direito de o fazer.

Podia estender-me infinitamente sobre este assunto, há a questão da escravatura, há a questão dos assassínios brutais, dos psicopatas, até do Estripador, Gilles de Rais ou Erzsebet Bathory de Csejthe…há tantas outras coisas, que o espaço definitivamente não me chega.

Se alguém tem dúvidas sobre o quão negra é a mente de todo o ser humano, bem lá no fundinho…basta olhar para o exemplo das crianças, que não têm problemas em matar um animal, arrancar as asas a uma mosca, bater num cão ou noutra criança…até uma certa idade. Porque a partir daí, absorvemos o que a sociedade nos diz que é certo e errado, e aprendemos a controlar e a julgar esse lado negro por esses parâmetros. …Uns mais que outros. Mas o facto é que o mantemos.

Acho que não encontrei nada que exprimisse melhor isto do que esta citação:

“As trevas precederam a luz, o inferno precedeu o céu. Para que o homem compreenda (…), é sobre este abismo que deve ousar debruçar-se… e ver.”

E ver. Pode ser que nos arrepiemos. E que aprendamos alguma coisa.